segunda-feira, 29 de dezembro de 2008

Os Três Presentes - Parte 3



Você vai chegar e porta não vai estar entreaberta

E a cópia das chaves? Acabou de perdê-las!

O vestido lilás, curto com babado no decote não tinha bolsos

Milhares de coisas na bolsa

Milhares de coisas nas mãos

Menos as benditas chaves

'Terei de esperar no portão', fala à meia voz, para si mesma

ou para alguém que não vai ouvir

Se aproxima da porta, tem esperança

Sempre teve

Pensa que podem tê-la deixado destrancada, sem querer

Sem querer a gente faz muita coisa na vida

Até a felicidade é sem querer

E você gira a maçaneta

ela corresponde

a porta vai se abrindo

luzes apagadas, até então

mas você, num ato irracional e rotineiro

bate a mão inteira no interruptor

e sob luzes claras

você vê muita gente que você gosta

ou que nem gosta, mas como tudo é uma surpresa

você revela o afeto

eles cantam um 'parabéns' gritado

você força aquele sorriso antes que seu rosto demonstre outras sensações

canta com a boca meio fechada

fica feliz, fica sem jeito, olha pra alguém que te deixa segura

torce para que o grito acabe logo

acaba?

não, não acaba

tem ainda o 'É pique! É pique! '

acaba?

não, não acaba

tem ainda o 'com quem será que a Susana vai casar'

acaba?

não acaba

tem ainda o ' Susana é uma boa companheira'

acaba?

não acaba

Cantaremos sempre para você,

mesmo que não sejamos muitos, mesmo que não seja surpresa

mesmo sem bolo, sem sobremesa

acaba?

não acaba...


=]

domingo, 28 de dezembro de 2008

Os Três Presentes - Parte 2

Para brincar na gangorra: dois!

Os Três Presentes - Parte 1

Susana completará idade nova em breve. Temos aqui o seu primeiro presente: um trecho do livro 'A Gaia Ciência' (digitado por essas mãos solitárias), obra do filósofo Friedrich Nietzsche. Eu espero que você goste!

56 – O desejo de sofrer – Quando penso no desejo de fazer alguma coisa que agite e estimule incessantemente milhões de jovens europeus, os quais não podem suportar o tédio nem a si próprios, dou-me conta de que deve haver neles um desejo de sofrer, seja como for, a fim de extrair desse sofrimento uma razão provável para agir, para fazer grandes coisas. É preciso sofrimento! Daí o clamor dos homens políticos, daí as inúmeras “crises” falsas, fabricadas, exageradas, de todas as categorias possíveis, e o cego ardor que se põe em acreditar nelas. Essa juventude exige que seja de fora que lhe venha ou lhe apareça: não a felicidade, mas a infelicidade; e a sua imaginação ocupa-se já em lhe dar antecipadamente as proporções de um monstro. Se estes sedentos de sofrimento sentissem em si força bastante de interiormente fazer bem a si mesmos, para fazerem alguma coisa a si próprios, saberiam também criar interiormente uma miséria altamente pessoal. Suas invenções poderiam ser então mais refinadas, e suas sensações trazer consigo o som da boa música; ao passo que agora, enchem o mundo com seu grito de agonia e, muitas vezes, por conseqüência, do sentimento de agonia! Não sabem fazer nada de si próprios... é uma função disso que rabiscam na parede a infelicidade dos outros! E de mais outros, até o infinito!... Peço-vos perdão, meus amigos: tive a audácia de rabiscar a minha própria felicidade na parede.
=]

sábado, 27 de dezembro de 2008

Don't let me free

Is this the end of us?
When you told me you were going away, I just closed my eyes and thought how empty this bedroom would be without your soul leading me. I miss the way I felt when you were here. I don't miss words, I just miss your voice whispering softly our crazy desires. I don't miss the tears but the reason to cry.
Tears... I have never seen yours, so, they never existed or I was not able to see them in the darkness of our passion.
It's my fault. I didn't trust your feeling, only mine. I just wonder do you miss me... or just think about me for some seconds, at least. How am I in your thoughts? Are my words stronger than my beauty? Do you think in me when you are kissing another?
What I learned with you? The colors in a lover's eyes are not real. They are magic, not real.
But, I decided to live that illusion. It was my choice. You were my choice. I tried to be happy for a while. I am waiting for you, like many times before...
So you come back...
I don't wanna you let go anymore, but I'm sure you are not here to stay forever. I can't teel you that something happens in my heart because you are so... thought­less. You wouldn't know how to distinguish a person in love from a cardiac patient.
I don't believe the words I hear you say, but could you say, just one time, that you love me and you are mine?


____
Hey, it's for you ;]
You deserve more than that,
but I ask you to forgive my inexperience :)

domingo, 21 de dezembro de 2008

Tempo de Reclusão

O mundo pede para ouvirmos mais e falarmos menos.

De que forma isso funciona no blog?
Bom, estou satisfeito com o processo criativo desenvolvido até aqui. Pensei, escrevi, desisti, revivi, publiquei, amei, odiei, encarnei, simulei, revelei... está tudo exposto ao sol!
Só que sinto que está na hora de ler mais e escrever menos. Esse desejo vem da necessidade de novas inspirações, de descobertas, de conhecer gente imaginária nova. E também pela vontade de reinventar a forma de escrever. Vou aproveitar o Natal para tentar escrever coisas diferentes. Renascer. E aproveitar esse tempo livre para ler coisas interessantes, tentar absorver algo novo, tentar me encontar em algumas linhas alheias.
Tenho que escrever isso: o próximo post vai ser em inglês. Presente para uma leitora. Estou adiando este post há dias e agora fica então prometido e inadiável. E, pelo menos no blog, a palavra deve ter a sua força. Aqui está a minha palavra.
É isso meus amores, meus amantes, meus amigos, meus anônimos. Encerro por aqui o nosso momento "Caras", "Ti ti ti" ou " Conta Mais". Não se preocupem, esse não é o tipo de leitura que pretendo me apegar por estes dias.

Um beijo, um abraço, um agarro, um aperto de mão, minha alma, meu corpo, tudo pra vocês. Escolham aquilo que vocês gostam mais.



=]

* Presente de Natal de Ana para este jovem solitário! Gosto muito, do selo e da amiga.

sexta-feira, 19 de dezembro de 2008

Postiço

Pouso os meus olhos sobre você e não vejo. Encosto minha boca junto a sua e não beijo. Ouço as suas palavras, leio os seu lábios, mas não entendo, não tem jeito. Estou ao seu lado e a distância entre nós é imensa, é continental. Eu não estou pedindo pra você ficar. Seu sorriso na parede é só um quadro mal pintado. E essa esperança de diálogo se afoga no silêncio, na falta de ar. Mas quando você simula uma palavra nos lábios, o medo de ouvir um som de despedida me invade e me destrói e faz tudo voltar ao começo. Pra te ver mais um segundo, faço as pazes, me esqueço. Eu não estou pedindo pra você ficar. Você simula despedidas e diz que não vai voltar. Fala da vida sem mim, que tudo vai melhorar. Eu acredito em você, me faço pequeno, uma gota no mar. Mesmo sofrendo, eu não estou pedindo pra você ficar. Mas fica, só até amanhã? Eu gosto de te ver assim, dona de mim. Gosto de ser seu brinquedo, de ficar com medo, de me ver ridículo. Gosto de ser barato, de ser lixo, de ser reciclado. Gosto de viver este não-romance, não-lógico, não-barbeado. Gosto da coisa suja, da lama, da sua cara imunda me ofendendo e dizendo coisas horríveis que me fazem dormir mal. Vísceras à mostra, profano, marginal. Você não vale nada, mas eu gosto. Acabarei com a sua vida um dia. Folha áspera, capa, jornal. E ao ler isso você pode achar que a realidade é supostamente suja. Corre o risco de estar certo. Só que eu não estou pedindo pra você ficar...
Eu não estou pedindo pra você ficar?

quinta-feira, 18 de dezembro de 2008

Desejo

eu quero ver teu corpo em chamas
literalmente
fazer uma fogueira
e incendiar você

^^

bjosnãomeliga

Lágrimas Secas


fez as malas

olhou pro lado

todos continuavam a dormir

ninguém havia levantado

invasivo, o inverno há muito tempo já havia chegado

era sempre bem recebido

não precisava ser convidado

juntou todas as folhas

as lágrimas deixou de lado

foi-se embora o outono

foi-se embora chateado

mas seu moço preste atenção

que o exemplo já foi dado

é preciso ser humilde

é bobagem ser lembrado

foi-se embora o outono

foi-se embora chateado...

quarta-feira, 17 de dezembro de 2008

segunda-feira, 15 de dezembro de 2008

Estatística sem Voz

No mundo há pelo menos três pessoas constantemente apaixonadas por você. Durante toda a vida. Você deve me perguntar: mas Thiago, onde estão essas três pessoas então? E eu te digo: você já se apaixonou por quantas pessoas? Muitas! Quantas delas souberam disso? Pouquíssimas! Não posso te dizer onde elas estão, mas posso dizer que elas estão em silêncio.
Ou você quebra o silêncio ou você quebra a cara. Ou ainda, as duas coisas.
Escolha pra lá de difícil.

domingo, 14 de dezembro de 2008

Vulto na mente

Vem neste exato momento, ou em um momento anterior a este, a hipótese de que algumas pessoas que passam pelo nosso caminho não são reais. Elas são anjos ou algum tipo de figura parecido, que pousam em terra firme só para saber como nós estamos e levar essas informações para alguma outra dimensão. Talvez eu seja uma delas. Talvez você. O mundo é um grande observatório... aos olhos de quem? Pode ser loucura, mas o que podemos classificar como real? Temos essa habilidade? Por trás de cada olhar há um mistério. Eu tenho medo de saber os seus segredos. Medo de te ver, te tocar, te beijar e depois descobrir que você não é real. Desculpe a filosofia de quinta em pleno domingo, mas eu precisava falar isso. Você me entende?
"Eu, que não sei quase nada do mar, descobri que não sei nada de mim"

sábado, 13 de dezembro de 2008

o Sol não nasceu hoje

Às vezes peço à consciência para que eu me esqueça de todos os mortais e, por segundos apenas, lembre só de mim. Das minhas preocupações. Dos meus problemas, que às vezes nem existem.
A calçada estava quente, a vida era uma miragem. O asfalto ao longe parecia estar molhado e no fio de luz havia uma daquelas bolas, que se parecem com as de basquete. Quando eu era criança eu chorava no banco de trás do carro porque eu pedia pro meu pai pegá-la e ele dizia não ser possível. Olhava para o asfalto ao longe supostamente molhado e perguntava pra minha mãe se lá estava chovendo. Não estava, ela dizia. Eu acreditava só quando a gente chegava bem pertinho.
Um outro dia, eu estava descalço e fui correr na rua só pra preocupar a minha vó. Eu corri no asfalto quente, cheguei no meio da rua e não consegui voltar, meus pés ardiam e eu gritava, pedindo ajuda. Minha vó foi lá correndo e me pegou no colo. Nem brigou comigo.
Hoje eu não tenho coragem de andar descalço nesse imundo asfalto. Nesse chão de homens crescidos.
E ainda hoje, no carro, eu posso sentar nos bancos da frente. Posso até dirigir.
Mas, quando eu deixei de ser criança?
Eu ainda penso nas bolas de basquete, no asfalto molhado que de perto estava seco, na vó, nos gritos. Eu queria nascer de novo. Viver tudo de novo. E escrever tudo isso de novo.
Isto tudo não é nada, isto tudo é normal. Hoje é só um dia ruim. Dezembro tem 31 dias, este ano tem 366. Um deles tem o direito de nascer ao avesso. Mas só um. No mais, o ano já está quase acabando. A vida, não.

quinta-feira, 11 de dezembro de 2008

Leve romance

o resto era música

animado refrão

infinito era o tempo

pra mais uma canção

e eu

que nem sei dançar

nos seus braços descobri

que pode afastar o corpo

mas não leve seu riso daqui

e essa estranha sensação

aqui dentro de mim?

coração em pedaços

o baile chegou ao fim?

mas no instante seguinte

a música recomeça

no estômago

as borboletas insistem em pousar

vão se juntando

também parecem dançar

no ritmo da vida

assim como eu

elas só querem ter um par

terça-feira, 9 de dezembro de 2008

Eu por mim mesmo V

A silenciosa leitora diz:

... posso te fazer uma pergunta? ...
... você acha que seria mais feliz se fosse como os outros garotos? ...
... sair toda noite...
... ficar com um monte de garotas, essas coisas ...

Eu respondo:

Que pergunta difícil! Seria menos paranóico? Acho que sim. Meu telefone tocaria mais? Provavelmente. Eu me sentiria o John Travolta quando entrasse no msn e visse aquelas centenas de janelinhas piscando me chamando pra um embalo de sábado à noite [que filme novo!]? Certamente! Seria então mais feliz? Não... não tenho certeza.
Infelizmente para responder de uma forma mais direta, eu preciso me comparar aos "outros garotos". Eles se divertem mais, formam rodas de violão, pagode, disso, daquilo... eu já fico mais em casa, no máximo eu e minha galerinha formamos um triângulo, um quadrado, mas nunca uma rodinha e eles me fazem muito bem, mesmo sem aquele barulho todo [exceto quando eu tenho ataques de riso], sem aquela cachaça toda [só um pouquinho], sem aquelas estórias fantásticas de predação, canibalismo, pegação, amasso [só de vez em quando]. Então, quando eu me comparo com os outros garotos eu vejo que eles são felizes. Olho pra mim mesmo e, surpreendentemente, eu acho que estou entre o bilhão de pessoas mais felizes do mundo. Somos todos felizes. E, por mais estranho que pareça, temos muito em comum.
Quem é mais feliz? Impossível dizer, temos uma vida só e é bobagem ficarmos comparando nossa vida com a do fulaninho que parece estar feliz pela festa, pelo carro que ganhou do pai, pela nova milésima namorada quando na verdade ele pode estar feliz somente pelo fato de estar vivo.
Eu sei que você me perguntou isso porque você também teve estes conflitos de ver toda a juventude brilhar e ao mesmo tempo, não sentir que faz parte dela. Se eu fosse como os" outros garotos", provavelmente este blog não estaria vivo. Não haveria a amável leitora, nem o paranóico pseudoescritor, nem os queridos amigos comentaristas! E isso é muito triste!
Eu poderia tentar menosprezar os "outros garotos" só pra tornar a minha vida aparentemente mais interessante. Muita gente faz isso. Mas eu prefiro pensar que, independente de qualquer coisa, todo mundo inventa um jeito de dar risada, de ser feliz a sua maneira.
E por que eu usei aspas para me referir aos "outros garotos"?
Porque isso me lembra aquela música do Leoni:

Garotos não resistem
Aos seus mistérios
Garotos nunca dizem não
Garotos como eu sempre tão espertos
Perto de uma mulher
São só garotos...

Então, amável leitora, eu acho que nós somos farinha do mesmo saco. Alguns bebem mais, alguns beijam mais, mas nós somos só garotos...

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A amável leitora tem nome e sobrenome. Para evitar formalidades, digo só o nome: Silvana. Eu fico muito feliz pela sua presença constante e pelos elogios ao blog. E é claro, isso tudo foi uma homenagem a você e a todos os outros que me acompanham, sempre atenciosos, sempre gentis [a ponto de não me avisarem onde estão os erros de grafia! rs!]. Silvana, eu quero que você seja muito feliz. Principalmente porque você me fez pensar no quanto eu o sou. Independente se sou mais feliz ou não que os outros, eu sou feliz. E só. É o que importa. É o que conforta. É o que a vida pode me oferecer no momento.
Amável leitora, eu quero somente que você seja mais feliz que uma pessoa: a Silvana de ontem. Siga esse 'conselho' todo dia ;]
Beijos a todos!

domingo, 7 de dezembro de 2008

algemas abertas

é melhor assim

que você fique longe de mim

não para todo o sempre

só nestes dias ruins

em que eu digo coisas que

rasgam os teus ouvidos

e o sangue que escorre

alimenta o meu desejo de te ver sofrer

não que eu seja mau

é que você me faz assim

com essa mania de me possuir

e descartar

e reciclar

e esperar que eu finja que nada aconteceu

os meus escudos

onde você escondeu?

e eu estava vestido

em uma alma nua

frágil ao tempo

ao sopro de vida, ao vento

as palavras silenciaram

brindamos ao puro constrangimento

de sermos tão irracionais

eu não queria te ver

dizer nunca mais

você bateu a porta

e ao ouvir teus passos distantes

eu rezei baixinho

mas de olhos abertos

para que você voltasse

ser amante então é isso:

orar de olhos abertos

sábado, 6 de dezembro de 2008

Do livro 'Mulheres de Cabul', de Harriet Logan

YELDA tem nove anos. Nos conhecemos numa escola caseira clandestina em 1997, onde sua mãe lecionava. Vinte garotinhas estavam sentadas no chão de uma casa gélida aprendendo a ler e escrever.


A caminho da escola, escondíamos nossos livros dentro do sagrado Corão. Eu sabia que se os Talebans me pegassem indo para a escola, seria espancada. Acho que os Talebans não queriam que fôssemos à escola porque nos queriam burras. Os Talebans diziam, "Meninos são homens, meninas são mulheres, e mulheres não vão à escola". Fiquei triste e com raiva quando fizeram aquilo conosco. Os meninos podiam ir para a escola sem esconder seus livros, sem medo, mas nós tínhamos de nos esconder.


Gosto de todas as matérias da escola. Também gosto de cozinhar. Quero concluir meus estudos e ser médica. Estou feliz agora que os Talebans foram embora e posso ir à escola livremente. Também posso ver televisão e assistir programas infantis. Quero estudar e ir à escola. Isso porque, no futuro, quero ajudar meu povo,que é muito pobre. Quero que as crianças de outros países também tenham o direito de ir à escola. O estudo é bom para todas as pessoas. As outras crianças devem ser corajosas como nós, as meninas do Afeganistão, fomos.


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sexta-feira, 5 de dezembro de 2008

Aleatório

É difícil escrever nas férias. Aliás, nos dias mais conturbados, com provas, projetos e trabalhos, me dá uma vontade louca de escrever, de tentar esquecer. Esquecer o quê? Não lembro, não sei dizer (começo a acreditar que isso realmente funciona). Esse espaço me faz muito bem e tem revelado coisas que eu ainda não sei se pertencem a mim. Sentimentos emprestados dos vários Thiagos descartáveis que os segundos insistem em matar.
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Uma coisa que eu aprendi é que eu não devo me sentir dono dos textos que eu fiz. Na verdade, não devo me sentir dono porque não o sou, de fato. Quando me vem aquele desejo de apagar alguns textos velhos, que nem combinam mais com meu estado de espírito, baixa uma luz que clareia a razão e me manda parar, dizendo: você não tem esse direito. Os Thiagos do passado, mesmo ausentes, devem ser respeitados. E é bom mater as lembranças. Talvez algum dia eu sinta saudade.
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Você já teve a sensação de ler algum escrito seu e dizer "como isso é ridículo!". E já se sentiu frágil por saber que alguém pode ler aquilo que você escreve. Esses dias eu me vi com medo de algum conhecido ler os meus textos e pensar alguma coisa de mim. Coisa desagradável, é claro. Depois eu pensei "isso é mais ridículo que os textos que eu quis apagar". Que digam, que pensem, que falem.
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Só diversificando, ontem eu cansei do quarto, fui dar uma volta na sala e vi uma cena da novela em que a mãe falava pra filha algo do tipo "minha filha com esse cabelinho colorido, toda moderninha e com esse pensamento velho... sabe o que eu descobri? que eu não tenho preconceito... e eu que me achava careta!". Eu não sei ao certo sobre o que elas estavam falando, mas eu adorei. Esses jovens com tantos penduricalhos, cabelinho arrepiado e/ou bagunçado ou comprido e/ou colorido, camiseta do Che Guevara, do Seu Madruga, enfim... independente do rótulo, qual é a qualidade do produto? Eu digo isso porque eu me vejo tão conservador e moralista às vezes... chega a dar nojo. E eu começo a achar que isso não é algo exclusivo meu. Eu não tenho posses, logo, isso deve ser comum.
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Quando eu tinha uns poucos anos minha mãe cantou uma música que era assim " e joga bosta na Geni, ela é feita pra apanhar..." e eu fiquei horrorizado. Como alguém canta uma coisa dessas? Não acreditava que a música existisse. Na crueldade da dúvida, minha irmã, também perturbada com a afronta da música, foi perguntar pro meu pai se ele conhecia a canção. Pra quê? O meu pai não só confirmou, como cantou todo o trecho "Joga pedra na Geni. Joga bosta na Geni. Ela é feita pra apanhar. Ela é boa de cuspir. Ela dá pra qualquer um. Maldita Geni!". Eu não acreditava e nem sei o porquê disso. Moralismo, talvez. Hoje eu acho tão estúpida a minha incredulidade.
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E eu acho que criança tem que saber de tudo mesmo. Tem que ter as respostas verdadeiras. A gente foi criado naquela coisa de faz de conta, de cegonha, de tv censurada, música dos dedinhos e a conseqüência está ai: Somos uns tapados! Devemos viver em um mundo revelado.
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Mas faz um tempo em que não se fala em revelação, ainda mais em tempos de câmera digital e coisa e tal. Somos todos moderninhos, afinal.

quinta-feira, 4 de dezembro de 2008

Anfíbio jeito de ser

No início da vida, a maioria das espécies de anfíbios vivem exclusivamente em ambiente aquático dulcícola, e sua estrutura corpórea é semelhante a de um alevino, realizando respiração branquial. A fase jovem, também conhecida como larval, é determinada do nascimento até a metamorfose do anfíbio, que lhe permitirá sair do ambiente aquático e fazer parte do ambiente terrestre quando adulto.


Quando criança, nem pensava em se mudar. A vida era boa, avaliando critérios que ele mesmo criara: os brinquedos, a casa na árvore e os bolinhos de chuva. A bicicleta nova estava por vir no próximo Natal. Assim, não era preciso mais nada. Às vezes era a brisa no rosto, em outras o sol no corpo. A chuva era amiga, porque ele já sabia como jogar bola dentro de casa.

Mas era preciso se adaptar. O corpo era novo a cada dia. As exigências também. Era grande demais para brigar com os primos, pequeno demais para sair sozinho. O mundo era de um tamanho que não servia. Ainda não era jovem, já não era mais criança. A menina chata passou a ser bonita, sem deixar de ser chata. Os brinquedos entraram em desuso.

Depois de um tempo, foi apresentado ao barbeador e à sensação de dormir na hora em que costumava acordar. A noite passou a fazer sentido, enfim. Crianças não entendem muito bem a função da noite. Jovens, sim. A menina chata passou a ser bonita mais uma vez, e interessante também.

O sexo por diversão. A bebida por diversão. As mulheres por diversão. A vida por diversão. O trabalho por obrigação. Coisas de um jovem coração, que acelera por nada e que adora derrapar.

Mas se divertir todo dia passou a ser desconfortável. A rotina da juventude instável trazia tristeza. Era preciso readaptar-se. Dar algum sentido para toda aquela bagunça. Viver uma confusão organizada. Primeiro era preciso conhecer alguém que estivesse na mesma. Conheceu. Depois, era preciso se convencer de que era plausível se casar. Não se convenceu, mas casou-se. Até filhos ele teve. O emprego era bom, o chefe não era. Mas adaptado estava. De uma forma nunca apresentada anteriormente. Vivia bem, segundo critérios criado pelos outros: sucesso nos negócios, filhos formados, viagem ao exterior. Reclamava muito dos filhos, dos corações acelerados, da mania de viver com pressa. Resmungava com todos. Amava-os simultaneamente. Não havia tempo para pensar em si próprio. Mas por que se importar? Vivia enfim em terra firme!

Somos todos anfíbios. Até que a vida prove o contrário.

quarta-feira, 3 de dezembro de 2008

Não há saudações

trecho de uma carta destinada a uma jovem amante:

... na realidade paralela, em que não havia esposa nem filhos nem formalidades, você me completava. Não por você ser importante. Talvez fosse exatamente o contrário. A sua insignificância me tornava supremo. Ver você ajoelhada aos meus pés implorando alguns tostões despertava em mim a verdadeira grandeza de ser um homem. Mais do que isso, despertava o meu prazer em ser um homem poderoso. Você era uma das minhas posses. Abandono os seus beijos e o seu corpo porque há tantas outras como você no mercado e também porque a vida de pai de família, executivo e jogador de golf me chama. E deste lado, felizmente, não há espaço para as mulheres da sua classe...

amantes nunca ficam em silêncio:

... há tantas outras mulheres como eu rondando por ai, de fato. Mas eu sei que a demanda de vagabundas não atende a todos os velhos vadios que jogam golf no final de semana. Obrigada por ter deixado as minhas contas pagas. Esquecer um homem sujo como você é tão fácil... Talvez não me lembre do seu nome ao postar essa carta. E o "senhor de respeito, casado, com filhos", esquecerá fácil as curvas do meu corpo? ...

amantes são para sempre:

... te vejo mais tarde ...

segunda-feira, 1 de dezembro de 2008

18 horas na estrada


Vegetação Urbana de Maringá.
Pantanal Sul-Matogrossense.
Cerrado Matogrossense.
Estou em casa.